UHUG Na Serra da Capivara
Animação - Tempo das cavernas
Bem Cultural - A arte rupestre em Minas Gerais
ARTE RUPESTRE NO BRASIL
Diferentemente do que sabemos por meio dos grandes
manuais e ou enciclopédias mundiais de arte, história, cultura e outros espaços
acadêmicos. Ou ainda nos manuais didáticos do Brasil. Aqui no Brasil também se
fez pinturas rupestres – são pinturas feitas nas rochas, usando-se do ocre para
executá-las (gordura vegetal e animal) na maioria das vezes. E ficaram
registradas ao longo de muitos anos. Há muito tempo atrás, podendo chegar até a
50 mil anos antes do presente, no Brasil, mas não somente.
As pinturas rupestres foram produzidas pelos
primeiros habitantes do Brasil. E estes habitantes deixaram nas pinturas
registradas, muito provavelmente segundo nosso entender, suas ações sociais
neste registro visual. Uma das ações sociais seriam as educativas.
As transmitiram por meios educativos, acreditamos
nesta tese, pois as pinturas repetem-se por extensões enormes e também porque
foram identificados vários estilos de pintar os mesmos signos. Mostrando desta
maneira que houve trocas culturais e de aprendizado entre os grupos ou mesmo
dentro dos grupos que aqui viviam.
Como afirma Anne-Marie Pessis, que “Durante o
período inicial do estilo Serra da Capivara, a região era pouco habitada.
Sabemos que outros grupos, minoritários, partilharam o mesmo espaço junto às comunidades
culturais de Serra da Capivara. Grupos que não tinham o domínio da técnica
gráfica, mas que incorporaram às suas culturas esta prática rupestre das
comunidades dominantes. Estas populações seriam responsáveis por outra tradição
de pintura rupestre existente no Nordeste do Brasil, a tradição Agreste”.
(PESSIS, 1989: 14/15).
As tradições de rupestres pinturas em São Raimundo
Nonato permitiram incorporarem ideias, técnicas e práticas nas sociedades que
não as tivessem , como era o caso da tradição Agreste, que surge por influência
da tradição Nordeste¸ representada em sua subtradição Serra da Capivara.
As pinturas rupestres seriam o registro da história
social dos habitantes daquele período. Onde lhes era possível afixarem seus
costumes e práticas cotidianas. Costumes que permitiriam outros grupos ou
futuras gerações de seus próprios grupos utilizassem-se destas informações
registradas.
Estas ações sociais que retratariam, então, a nosso
ver, parte do cotidiano da época como caca, danças, rituais, lutas
territoriais, animais que viviam naquele momento – um cotidiano muito parecido
com o nosso atualmente, onde precisamos lutar para garantir o que nos pertence
por direito – dos grafismos puros (que não temos condições de interpretar),
cenas de sexo e cenas de brincadeiras, entre outras.
Com certeza, estes locais são, em grande parte,
reocupados, pois estão carregados de informações sobre o entorno que foram
passadas e/ou estão ali representadas, consequentemente os novos ocupantes
poderiam decodificá-las. Como aponta Pedro I. Schmitz, assim: Os principais
sítios localizam-se em abrigos rochosos, grutas e cavernas e indicam certa
estabilidade de (re) ocupação, tanto nas camadas sedimentares quanto nas
pinturas das paredes.(SCHMITZ, 1999: 57).
Era de uma necessidade sem precedentes deter os
conhecimentos a respeito dos meios de subsistência, pois não se poderia perder
tempo diariamente em busca da caça, pesca e/ou coleta de frutas. Por este
motivo às pinturas teriam o papel de retratar com precisão os locais onde foram
desenhadas informando o que havia naquele meio. Assim Niéde Guidon afirma que A
base econômica continuava sendo a caça, a coleta e a pesca: as pinturas
rupestres retratavam com detalhes a evolução sociocultural desses grupos
durante pelo menos 6 mil anos, o que constitui um dos mais longos e importantes
arquivos visuais sobre a Humanidade disponível, hoje, no mundo.(GUIDON,
1998: 43/44).
Para E. Adamson Hoebel quase todas as
inter-relações sociais são dominadas pela cultura existente. Não temos notícia
de nenhum grupo humano sem cultura. ..., uma sociedade humana é mais do que
mero agregado expressando comportamento instintivo. A sociedade humana é uma
população permanentemente organizada de acordo com sua cultura.(HOEBEL,
1982: 222/223).
Ao julgar que as comunidades humanas são compostas
por grupos intercambiantes (inclusive como nós hoje, veja a globalização),
cujos membros fazem parte de um todo mestiço nas relações existentes entre si,
principalmente no caso da cultura, cuja produção executada por esses
homens/mulheres é um material exemplar para as pinturas rupestres.
Se todos os grupos humanos têm sua própria cultura
e interagem significa que, além de se manifestarem culturalmente, ainda
transmitem seus conhecimentos. Por meio da cultura produzida por estes grupos
humanos das mais diferentes formas estéticas, e por meios educativos.
A partir destas cenas podemos, então, depreender
que houve sim no território brasileiro, como em outros locais do mundo,
história e educação muito antes de 1500. O Brasil com sua imensa extensão
territorial teria também uma grande complexidade de formas, estilos de pinturas
e locais pintados. Auxiliando a comprovar que as escolas rupestres teriam se
disseminado.
Entendemos as pinturas rupestres foi uma das mais
importantes, (senão a mais), formas sociais de garantir a transmissão cultural
e pedagógica da época. E que contribuiu para a interação e a relação entre
humanos e destes com a natureza. E sobreviveu até hoje para nos prestando o
testemunho do que foi a sociedade de ontem no Brasil.
As pinturas nos mostram, desde muito tempo, que
devemos lutar e muito para que a nossa sobrevivência garanta-se. E que sem esta
nada conseguimos. E, ainda, que por meio da educação social esta luta torna-se
mais fácil de ser vencida.
O humano só se faz em sua plenitude por meio de
lutas. E os primeiros habitantes do Brasil já sabiam disto – assim como também
nos sabemos. Para que possamos compreender melhor a nossa própria historia
antiga e ver nela um reflexo para o nosso cotidiano. Façamos em nossas vidas
muitas lutas políticas, sociais, culturais e para a sobrevivência. Como já
fazemos em nossas praticas cotidianas de educadores sociais que todos somos.
Façamos, também, nossas festas, viagens e passeios, entre outras praticas sociais
em nome de nossos prazeres. Como nos mostram os antigos habitantes de nosso
Brasil que viveram muito bem, relacionando-se entre si, com o meio ambiente e
com os outros grupos humanos que aqui viveram. Diferentemente o que pensamos!!!
GRAFISMO RUPESTRE NO PIAUÍ
GRAFISMO RUPESTRE EM MINAS GERAIS
Imagens de registros rupestres no Brasil
ASTRONOMIA INDIGENA
Os conhecimentos
astronômicos empíricos dos indígenas, relativos aos movimentos do Sol, da
Lua, da Via-Láctea e de suas constelações, associados à biodiversidade local,
suficientes para a sobrevivência em sociedade, são desconhecidos por muitos
historiadores da ciência. Nesta conferência, apresentamos uma parte desses
conhecimentos, que conseguimos resgatar, utilizando documentos históricos, que
relatam a importância da astronomia no cotidiano das famílias indígenas;
vestígios arqueológicos, tais como a arte rupestre e os monumentos rochosos,
que possuem conotação astronômica; diálogos informais e observações do céu com
pajés de todas as regiões brasileiras; além de cursos de Etnociência, que
ministramos para professores indígenas. Em 1632, Galileu Galilei publicou o
livro: “Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo; ptolomaico e
copernicano”, onde afirmava que a principal causa do fenômeno das marés seriam
os dois movimentos circulares da Terra: o de rotação em torno de seu eixo
(diurno) e o de translação em torno do Sol (anual), desconsiderando a
influência da Lua. Em 1612, o missionário capuchinho francês Claude d’Abbeville
passou quatro meses entre os tupinambá do Maranhão, da família tupi-guarani,
localizados perto da Linha do Equador. Seu
livro “Histoire de la mission de pères capucins en l’Isle de Maragnan et terres
circonvoisines”, publicado em Paris em 1614, é considerado uma das mais
importantes fontes da etnografia dos indígenas do tronco tupi. Nesse livro,
publicado dezoito anos antes do livro “Diálogo” de Galileu, d’Abbeville
escreveu: “Os tupinambá atribuem à Lua o fluxo e o refluxo do mar e distinguem
muito bem as duas marés cheias que se verificam na lua cheia e na lua nova ou
poucos dias depois”. Além disso, a maioria dos antigos mitos indígenas sobre o
fenômeno da pororoca, que traz uma grande onda do mar para os rios volumosos da
Amazônia, mostra que ele ocorre perto da lua cheia e da lua nova, demonstrando
o conhecimento, por esses povos, da relação entre as marés e as fases da Lua.
Somente em 1687, setenta e três anos após a
publicação de d’Abbeville, Isaac Newton demonstrou que a causa das marés é a
atração gravitacional do Sol e, principalmente, da Lua sobre a superfície da
Terra. Esses fatos mostram que, muito antes da Teoria de Galileu, que não
considerava a Lua, os indígenas que habitavam o Brasil já sabiam que ela é a
principal causadora das marés.
A arte rupestre pré-histórica é a fonte mais
importante de informação que dispomos sobre os primórdios da arte, do
pensamento e da cultura humana. A palavra Itacoatiara, que em tupi e em guarani
significa pedra pintada, é freqüentemente utilizada para denominar os rochedos
decorados. Existem alguns painéis de arte rupestre que além do Sol, da Lua e de
constelações, parecem representar fenômenos efêmeros, como a aparição de um
cometa muito brilhante, um meteoro, uma conjunção de planetas ou um eclipse,
que alteravam a ordem do Universo e amedrontavam o povo sendo, portanto, 2
registrados. Assim, esses registros podem ser úteis para o astrônomo documentar
antigos eventos celestes.
Os indígenas observavam os movimentos
aparentes do Sol para determinar, o meio dia solar, os pontos cardeais e as
estações do ano utilizando o Gnômon, que consiste de uma haste cravada
verticalmente no solo, da qual se observa a sombra projetada pelo Sol, sobre um
terreno horizontal. Ele é um dos mais simples e antigos instrumentos de
Astronomia, sendo chamado de Kuaray Ra'anga, em guarani e Cuaracy Raangaba, em
tupi antigo.
Um tipo de gnômon indígena, que temos
encontrado no Brasil, em diversos sítios arqueológicos, é constituído de uma
rocha, pouco trabalhada artificialmente, com cerca de 1,50 metros de altura,
aproximadamente em forma de tronco de pirâmide e talhada para os quatro pontos
cardeais. Ele aponta verticalmente para o ponto mais alto do céu (chamado
zênite), sendo que as suas faces maiores ficam voltadas para a linha norte-sul
e as menores para a
leste-oeste. Em volta do gnômon indígena há rochas menores (seixos) que formam
uma circunferência e três linhas orientadas para as direções dos pontos
cardeais e do nascer e do pôr-do-sol nos dias do início de cada estação do ano
(solstícios e equinócios).
Em geral, o zênite é o domínio do deus maior
da etnia considerada; os pontos cardeais são os domínios dos quatro deuses que
o auxiliaram na criação do mundo e de seus habitantes; os pontos colaterais são
domínios das esposas desses deuses.
Chamamos esse monumento
de rochas, constituído pelo gnômon e pelos seixos, de Observatório Solar
Indígena, devido à sua relação com os movimentos aparentes do Sol. Em 1614, o monge capuchinho francês Claude
d'Abbeville escreveu que os tupinambá também observavam o movimento do nascer e
do pôr-do-sol e o seu deslocamento na linha do horizonte, que efetua entre os
dois trópicos, limites que jamais ultrapassam. Eles sabiam que quando o Sol vinha
do lado norte trazia-lhes ventos e brisas e que, ao contrário, quando vinha do
lado sul, trazia chuvas. Eles contavam perfeitamente os anos, pelo conhecimento
do deslocamento do Sol de um trópico a outro e vice-versa.
Conheciam igualmente os
meses pela época das chuvas e pela época dos ventos ou, ainda, pelo tempo dos
cajus. Além da orientação
geográfica, um dos principais objetivos práticos da astronomia indígena era sua
utilização na agricultura. Os indígenas associavam as estações do ano e as
fases da Lua com a biodiversidade local, para determinarem a época de plantio e
da colheita, bem como para a melhoria da produção e o controle natural das
pragas. Eles consideram que a melhor época para certas atividades, tais como, a
caça, o plantio e o corte de madeira, é perto da lua nova, pois perto da lua
cheia os animais se tornam mais agitados devido ao aumento de luminosidade, por
exemplo, a incidência dos percevejos que atacam a lavoura. A incidência de
mosquitos também é muito maior na lua cheia do que na lua nova.
Os indígenas que habitam o litoral também
conhecem a relação das fases da Lua com as marés. Eles associam as marés às
estações do ano para a pesca artesanal. Em geral, quando saem para pescar, seja
no rio ou no mar, já sabem quais as espécies de peixe mais abundantes, em
função da época do ano e da fase da Lua. Por exemplo, eles pescam a gurijuba
(Arius parkeri), o peixe mais tradicional da região de Belém, PA,
principalmente entre as fases de lua minguante para a nova, nos meses de
outubro e novembro.
Para os guarani, do sul do Brasil, até o
ritual do “batismo”, em que as crianças recebem seu nome, depende de um
calendário lunissolar: o plantio principal do milho ocorre, geralmente, na
primeira lua minguante de agosto. Após a colheita do milho plantado nessa época
é que realizam o batismo das crianças. Esse evento deve coincidir com a época
do máximo do “tempo novo”, caracterizada pelos fortes temporais de verão,
geralmente o mês de janeiro, quando os guarani celebram a colheita do milho e o
ritual do batismo. As constelações indígenas diferem das concepções das
sociedades exteriores ocidentais principalmente em três aspectos.
Primeiro, as principais
constelações ocidentais registradas pelos povos antigos são aquelas que
interceptam o caminho imaginário que chamamos de eclíptica, por onde
aparentemente passa o Sol, e próximo do qual encontramos a Lua e os planetas.
Essas constelações são chamadas zodiacais. As principais constelações indígenas
estão localizadas na Via Láctea, a faixa esbranquiçada que atravessa o céu,
onde as estrelas e as nebulosas aparecem em maior quantidade, facilmente
visível à noite.
Segundo, os desenhos das constelações
ocidentais são feitos pela união de estrelas. Mas, para os
indígenas, as constelações são constituídas pela união de estrelas e, também,
pelas manchas claras e escuras da Via Láctea, sendo mais fáceis de imaginar.
Muitas vezes, apenas as manchas claras ou escuras, sem estrelas, formam uma
constelação. A Grande Nuvem de Magalhães e a Pequena Nuvem de Magalhães são
consideradas constelações.
O terceiro aspecto que
diferencia as constelações indígenas das ocidentais está relacionado ao número
delas conhecido pelos indígenas. A União Astronômica Internacional (UAI)
utiliza um total de 88 constelações, distribuídas nos dois hemisférios
terrestres, enquanto
certos grupos indígenas já nos mostraram mais de cem constelações, vistas de
sua região de observação. Quando indagados sobre quantas constelações existem,
os pajés dizem que tudo que existe no céu existe também na Terra, que nada mais
seria do que uma cópia imperfeita do céu. Assim, cada animal terrestre tem seu
correspondente celeste, em forma de constelação.
Anais da 61ª Reunião Anual da SBPC - Manaus, AM - Julho/2009
Germano B. Afonso (CNPq/UEMS)
Imagens de registros rupestres de astronomia
GRAFISMO RUPESTRE EM SANTA CATARINA
ZOÓLITOS
Zoólitos são artefatos
indígenas confeccionados em pedra polida e também outros materiais que
representam animais como raia, tubarão, baleia, boto, coruja, jacaré etc;
utilizadas em rituais. Algumas peças apresentam uma cavidade ventral para
elaboração de corantes. Os zoólitos possivelmente eram peças de prestígios,
sendo utilizadas muitas vezes, como acompanhamento funerário.
Os zoólitos foram produzidos por culturas
prè-históricas que outrora habitaram principalmente o litoral brasileiro, e
também, vários lugares do mundo.
No
Brasil, estas bonitas e enigmáticas "estatuetas", foram encontradas
principalmente em vários "Sambaquis" escavados na costa
sul-brasileira ( Santa Catrina, Paraná, Rio Grande do Sul e também em outros
estados brasileiros ).
Sambaqui
vem do guarani e significa monte de conchas: Tamba = conchas e ki
= monte. São encontrados em todo o litoral brasileiro. Na região de
Laguna (Laguna) e na Baía da Babitonga (São Francisco do Sul) localizam-se os
maiores sambaquis do mundo, que chegam a alcançar 40 metros de altura por
centenas de metros de comprimento. Foram construídos na pré-história nos locais
onde viviam povos caçadores, pescadores e coletores.
É
possível encontrar na camada superior dos sambaquis indícios de ocupação do
grupo horticultor Guarani que ali se fixaram
aproximadamente 1000 anos antes da 'conquista' do Brasil pelos portugueses. Os
Guaranis praticavam a agricultura e desenvolveram a cerâmica feita de argila
cozida, de formas variadas, utilizadas para armazenar água e alimentos. Em urnas
de cerâmica enterravam seus mortos, junto com alguns presentes. Também
fabricavam cachimbos de barro, machados de pedra usados para derrubar árvores e
fabricar canoas, e vários outros objetos de uso desconhecido para os
arqueólogos.
Os
habitantes dos sambaquis tinham uma altura média de 1,60m e viviam não mais do
que 40 anos. Em alguns esqueletos foi encontrado uma enfermidade no ouvido,
comum nos mergulhadores profissionais. Acredita-se, por isso, que os
sambaquianos praticavam a pesca de mergulho. Possuíam acentuado desgaste
dentário devido a ingestão de alimentos rijos e de movimentos rigoroso e
intensos na mastigação . Gostavam de se enfeitar com pingentes e colares feitos
de pedras, conchas, vértebras de peixe, dentes de porco do mato, tubarão, jacarés,
etc.
GRAFISMO RUPESTRE NA FRANÇA (Lascaux)
GRAFISMO RUPESTRE NA ESPANHA (Altamira)
GRAFISMO RUPESTRE NA ÁFRICA
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