domingo, 23 de fevereiro de 2014

Música na Antiguidade


A Música na Pré-História

A música nasceu com a natureza, ao considerarmos que seus elementos formais, som e ritmo, fazem parte do universo e, particularmente da estrutura humana. O homem pré-histórico descobriu os sons que o cercavam no ambiente e aprendeu a distinguir os timbres característicos da canção das ondas se quebrando na praia, da tempestade se aproximando e das vozes dos vários animais selvagens. E encantou-se com se próprio instrumento musical - a voz. Mas a música pré-histórica não se configurou como arte: teria sido uma expansão impulsiva e instintiva do movimento sonoro ou apenas um expressivo meio de comunicação, sempre ligada às palavras, aos ritos e a dança.


Música nas Antigas Civilizações
A música primitiva era baseada em imitações dos sons de animais e do mundo físico com o intuito de tentar a comunicação com o mundo espiritual. Com o desenvolvimento de harmonias e instrumentos elaborados, a música entrou em processo de sacralização e se tornou uma referência fundamental para o conhecimento do universo. Como representante da ordem cósmica, a música foi inclusive associada ao simbolismo dos planetas e dos números, como a teoria de Pitágoras sobre a ‘ harmonia das esferas', com um extenso estudo sobre a consonância das notas produzidas pelos astros em seus movimentos regulares.
 
 
O mistério continuou a envolver a música da Antiguidade, pela ausência do próprio elemento sonoro, que se desfez no tempo e, ainda, pela inexistência de uma notação musical clara e documentação suficiente. No entanto, sabemos que nas antigas civilizações já havia o cultivo da música como arte em si mesma, embora ligada à religião e à política. Fazendo estudos nos instrumentos encontrados dessa época notou-se o aperfeiçoamento na construção dos instrumentos, com valorização do timbre.



Mesopotâmia

Desde início do terceiro milênio antes de Cristo, no Império Agrícola da Mesopotâmia, situado na região entre os rios Tigre e Eufrates, viviam respectivamente sumérios, assírios e babilônios. Nas ruínas das cidades desses povos, foram descobertos harpas de 3 a 20 cordas dos sumérios e cítaras de origem assíria. Na Assíria e na Babilônia, a música tinha importante significação social e expressiva atuação no culto religioso. Fortaleceu-se tal conclusão, quando C. Saches decifrou um documento musical de Assur, escrito por volta de 800 a.C., em símbolos cuneiformes: era um acompanhamento de harpa, onde se revela uma forma de escrita a duas e três vozes, com base num sistema pentatônico. O legado da cultura mesopotâmica passou aos Persas. Segundo o testemunho de Heródoto, o célebre historiador grego, eles chegaram a abolir a música do culto, sem deixarem de apreciar, no entanto, os conjuntos vocais e instrumentais, como é possível constatar nos documentos iconográficos.

Egito

A arte egípcia, com características muito próprias, revela inspiração e finalidade religiosa. A música no Egito era praticada em todos os momentos da vida social. O povo tinha seus cantos tradicionais, religiosos - principalmente através de transes místicos para a cura de doenças do corpo físico, do mental, do emocional e do espiritual -, profanos, guerreiros e de trabalho. Os instrumentos de corda, harpa e cítara eram artisticamente elaborados. Os egípcios tinham flautas simples e duplas e instrumento típicos de percussão, como crótalo e sistros e principalmente os tambores. No século II a.C., na Alexandria, Ctesíbio inventou o órgão hidráulico, que funcionava, em parte, mergulhado na água. A escala egípcia era diatônica, com tons e semitons, conforme se pode deduzir pelas flautas encontradas. A harpa, como instrumento nacional, foi elaborada nas mais luxuosas e elegantes formas. A arte egípcia, através de seus instrumento musicais e papiros com diversas anotações, atingiu outras civilizações antigas, como a Cretense, a Grega e a Romana.

A povo egípcio representa a civilização mais antiga de que se tem conhecimento. A Música e os músicos gozavam de grande prestígio dentro da comunidade. Tanto na música religiosa, quanto na de guerra e mesmo na recreativa, os egípcios davam preferência às expressões elevadas e serenas, dando-lhes destaque no culto aos deuses, nos banquetes e cerimônias. A Música era praticada em coletividade, inclusive com a participação feminina.

Tecnicamente, faziam escalas de sete notas e usavam principalmente instrumentos de corda, como a harpa e o alaúde. Usavam também flautas feitas de osso e com o passar do tempo, vieram a fabricá-las também em metal. Como instrumentos de percussão, usavam o os tambores de guerra, címbalos feitos de bronze.

Assírios, Babilônios e Caldeus 
Por falta de documentação escrita, pouco se sabe sobre a arte musical destes povos. Contudo, vários dos munumentos encontrados, nos mostram a arte sempre ligada à magia. Entre os Assírios e os Babilônios, a Música desempenhava importante papel nas batalhas, animando as tropas e também alegrando os banquetes e festas, em tempos de paz.

Vários eram os instrumentos usados por esses povos, já divididos entre instrumentos de sopro, corda e percussão, entre eles: flautas, tímpanos, gongo e lira.


 
 
 
 

Árabes

Para os árabes, a Música é indispensável em todas as cerimônias religiosas. O Alcorão, livro sagrado dos árabes, tem seus versículos cantados, sendo esta uma tradição mantida até os nossos dias. Este é um dos motivos que este é um dos povos que mais cultivaram e propagaram a arte musical. Inicialmente, o canto e a execução dos instrumentos eram confiados aos escravos e às mulheres.

Seu sistema musical era composto de 17 notas e os primeiros modelos de ritmo foram os passos do camelo e o galope dos cavalos. Um dos mais velhos instrumentos árabes era a rebeca da poeta e continha apenas uma corda. Servia para acompanhar as declamações dos poetas da tribo. Usavam ainda a harpa e o alaúde. Como percussão tinham o adufe, espécie de tambor coberto com pele. O principal instrumento de sopro era a flauta

Hebreus

Muito do que se sabe a respeito do povo hebreu, foi transmitido através da Bíblia, onde encontramos várias referências à Música. Os salmos eram os principais cantos sacros, atribuídos a David, musicista e chefe do exército. Quando assumiu o trono, propagou muito a Música entre o povo, principalmente através de grandes reuniões em praça pública, onde convocava os melhores instrumentistas.

Seus instrumentos tiveram origem nas civilizações árabe e egípcia. Um instrumento muito usado nos cultos religiosos era o cshofar, um chifre em forma de espiral. Usavam também trompas, flautas, pandeiros e pratos de metal. Sua música era muito rica em instrumentos.


Indianos

Muitas civilizações da antiguidade estão extintas, com exceção aos Indianos e Chineses. Os indianos conservam sua tradições através dos tempos, permitindo um grande entendimento de sua visão da arte musical. Consideram a Música como parte formadora do Universo e dos sistema religioso, cultivando-a desde os primórdios de sua história, atingindo considerável estágio musical.

Usam até hoje uma escala de sete notas com os nomes das sete ninfas que acompanham a deusa Svaragrama, designadas em caracteres sânscrito. O principal instrumento indiano, a vina, teria sido dada diretamente pelo deus Brama. É um instrumento de corda. Usam ainda o magoude, semelhante ao alaúde, o ravanastrom, que seria a origem do violino, além de címbalos e tambores.

Chineses

As primeiras noções de arte musical na China remontam a cerca de 4000 a.C., quando acreditavam que a Música tinha origem na natureza. Um do primeiros teóricos musicais era o chinês Ling-Lum, estabelecendo o sistema de cinco tons conhecido como escala pentatônica. Mais tarde passou a ter sete notas.

A Música era uma instituição oficial, pois somente imperadores e príncipes podiam criar músicas. O objetivo era orientar o povo e purificar-lhe o pensamento. Seus instrumentos principais eram o king, de percussão, e o kin, de cordas.
 
 
 


Grécia

Encontramos a gênese da arte grega na civilização- cretense, cujos vestígios se revelaram em ruínas de cidades como Tirinto, Micenas e Cnossos. Ela é a glorificação da natureza e da vida, expressando um anseio constante pela perfeição, ritmos e harmonia, o apreço pelos valores espirituais e o culto da beleza ideal. A música, a poesia e a dança, unidas por um elemento comum - o ritmo- , eram praticados de modo integrado. Os poemas eram recitados ao som de acompanhamento musical. A música grega se baseava em oito escalas diatônicas descendentes- os modos gregos -, cada um com um significado ético e psicológico. Os instrumentos nacionais eram a cítara e a lira. O instrumento de sopro mais usado era o aulos, de sonoridade sensual, muito usada nas festas dedicadas ao Deus Dionísio, mais tarde chamado de Baco, pelos romanos. A teoria musical grega se fundamentava na ética e na matemática. Pitágoras estabeleceu proporções numéricas para cada intervalo musical. A notação musical era alfabética, mas insuficiente: usavam letras em diversas posições para representar os sons. Os gregos relacionavam intimamente música, psicologia, moral e educação. No âmbito da ética musical, dentre as posturas mais interessantes, destacam-se:

- a de Pratinas, rígida e conservadora, extremamente reacionária, condenava o instrumentalismo.

- a de Pídaro, mais positiva, expressa uma sincera crença no poder da influência musical no decorrer do processo educativo.

- A de Platão, representante máximo da filosofia musical grega, apoiava-se na afirmação da essência psicológica da música. Segundo esse filósofo, a música poderia exercer sobre o homem poder maléfico ou benéfico, por imitar a harmonia das esferas celestes, da alma e das ações. Daí, a necessidade de se colocar a música sob a administração e a vigilância do Estado, sempre a serviço da edificação espiritual humana, voltada para o bem da polis, almejada como cidade justa.

- A de Aristóteles, que destaca o papel da poesia, da música e do teatro na purgação das paixões (cartase). Finalizando, para ressaltar a importância da música na Grécia, basta citar um trecho da A República, de Platão, que comenta estes versos de Homero, na Odisséia: os homens apreciam mais os cânticos mais novos. O referido trecho, traduzido, é o seguinte: "... pois é de temer que a adoção de um novo gênero musical ponha tudo em perigo. Nunca, com efeito, se a assesta um golpe contra as formas da música, sem abalar as maiores leis da cidade, como afirma Damon, e eu creio de bom grado." (PLATÃO. A República, 424b-2, p.203.).

palavra música vem do grego: mousikê, que significa arte das musas e englobava a poesia, a dança, o canto, a declamação e a matemática. Apurou-se que sua música era essencialmente cantada, cabendo aos instrumentos a função de acompanhar. A finalidade continuava religiosa. O sistema musical apoiava-se numa escala elementar de quatro sons - o tetracorde. Da união de dois tetracordes formaram-se escalas - chamadas de modos - de oito notas, cuja riqueza sonora permitia traçar linhas melódicas e tornaram o sistema musical grego conhecido como modal. A múscia grega, também monódica, com os instrumentos acompanhando em uníssono deu origem a melodias de fácil assimilação - os nomoi, que eram acompanhados de cítara e aulo.
Os gregos criaram, ainda, um sistema de notação musical sumário e deixaram muitas de suas letras, que, juntamente com os escritos teóricos, permitem reconstituir um conjunto de músicas que dá uma idéia geral do repertório, que deve ter sido muito rico. A notação musical era alfabética, mas insuficiente: usavam letras em diversas posições para representar os sons. Os gregos relacionavam intimamente música, psicologia, moral e educação. No âmbito da ética musical, dentre as posturas mais interessantes, destacam-se: - a de Pratinas, rígida e conservadora, extremamente reacionária, condenava o instrumentalismo; - a de Pídaro, mais positiva, expressa uma sincera crença no poder da influência musical no decorrer do processo educativo; - a de Platão, representante máximo da filosofia musical grega, apoiava-se na afirmação da essência psicológica da música. Segundo ele, a música poderia exercer sobre o homem poder maléfico ou benéfico, por imitar a harmonia das esferas celestes, da alma e das ações. Daí, a necessidade de se colocar a música sob a administração e a vigilância do Estado, sempre a serviço da edificação espiritual humana, voltada para o bem da polis, almejada como cidade justa; - e, finalmente, a de Aristóteles, onde se destaca o papel da poesia, da música e do teatro na purgação das paixões. No período helenístico, a música grega desviara-se para a busca e o culto da virtuosidade, o que representou uma decadência do espírito nacional que a orientara na época áurea. Eram interessantes os diversos instrumentos de sopro utilizados nos exércitos, com variadas finalidades.



 


Roma No período helenístico, a música grega desviara-se para a busca e o culto da virtuosidade, o que representou uma decadência do espírito nacional que a orientara na época áurea. Eram interessantes os diversos instrumentos de sopro utilizados nos exércitos, com variadas finalidades. A mais curiosa figura conhecida na arte musical romana, antes da era cristã, foi o Imperador Nero, compositor e poeta, que se acompanhava à lira, tendo até instituído a ''claque'', cujos aplausos interesseiros estimulavam sua inspiração e acalentavam sua vaidade.

Os romanos assimilaram a música grega. É em roma que a música se torna prosáica: passa a exaltar a glória militar embora no recesso dos lares continuasse a ser praticada a suave música grega. O aperfeiçoamento dos instrumentos de sopro e percussão tiveram importância decisiva no desenvolvimento ulterior da música européia. Com maior potência sonora, com outro sentido e sem a nobreza inicial conferida pelos gregos, a música desceu às catacumbas, juntamente com os cristãos. Nas catacumbas, os cristãos oravam e exprimiam seus sentimentos de fé, esperança e amor através da música, passando a ser um elemento de elevação espiritual, auxiliar valioso na tarefa de revelar um mundo interior e pessoal. Nos cânticos dos primeiros cristãos estão as sementes da monódia cristã. Sua inspiração eram os salmos, de origem hebraica, que São Pedro havia trazido da Antioquia, no ano de 54. Era um exemplo de perfeição e equilíbrio, exprimindo com requintes as menores graduações dos textos, segundo um ritmo livre e de maravilhoso efeito místico.

A música monódica foi vocal e graças à Igreja Católica ela se desenvolveu. A monódia era só cantada e os instrumentos, considerados diabólicos, eram proibidos. Assim a música acompanha a cristandade e os grandes centros da Igreja - Bizâncio, Roma, Antioquia e Jerusalém - eram os grandes centros da música. Quanto à música monódica, existem dúvidas, pois parece que em Bizâncio, na Síria, e nas sinagogas do Oriente já se praticava a polifonia e até a antífona e o responsório (coros respondendo a solistas). A música litúrgica é organizada em cada região de forma diferente e própria. Caberia ao Papa Gregório I (Gregório Magno), no século VI, unificar os cânticos religiosos, como recurso para padronizar a liturgia em toda a Europa. Reuniu todos os cantos considerados perfeitos, com indicações sobre o modo de cantá-los, sistematizou-os de acordo com as festas do ano litúrgico e codificou tudo em dois livros que prendeu, simbolicamente, em correntes num altar da Igreja de São Pedro, em Roma. Esses livros eram o Antiphonarium e o Cantatorium. Gregório Magno reformou ainda a Schola Cantorum, onde os padres a música religiosa - símbolo uniforme da fé cristã -, que deveria ser levada a todos os lugares do mundo, expressando a palavra de Deus. O repertório é depurado da influência oriental; a melodia é plana e linear - cantus planus (cantochão), que passou a denominar-se cantos gregorianos, em homenagem ao Papa Gregório Magno, a quem é atribuída sua organização, sendo a música oficial da Igreja e das universidades durante mil anos.


 

 
 
 
 
 
 
 
 





 

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